Hoje vi muita gente preocupada em como
explicar para as crianças a triste derrota do Brasil na semifinal de ontem. Sei
que é doído ver uma criança que até ontem balançava a bandeira e tocava a
corneta pela casa chorar pelo fim de um sonho. Sei que machuca ver as lágrimas
escorrendo nos rostinhos pintados com tinta guache. Mas precisamos assumir que
as crianças têm ainda pouca dimensão do que é uma derrota, cabendo a nós,
adultos, mostrar a elas que perder uma copa está muito longe de ser o fim do
mundo. Aliás, talvez a copa seja uma oportunidade para apresentar às crianças
exemplos palpáveis do que é a vida e de qual a maneira mais bonita e corajosa
de enfrentá-la.
A você, que tem essa dúvida de como
explicar para o seu filho o que foi a goleada de ontem, sugiro que comece dizendo
que a frustração da derrota ainda terá que ser sentida e suportada por nós em
inúmeras outras ocasiões, que o mundo ainda vai moer nossos sonhos dezenas de
vezes e que as pessoas e fatos não operam de acordo com nossas vontades e
expectativas. A vida é exatamente assim, não? Uma sucessão de perdas e ganhos
que muitas vezes vêm em momentos que não poderíamos prever.
Eu diria também que o jogo de ontem é um
ótimo exemplo dos fatores que conduzem a uma vitória limpa e merecida: preparo,
dedicação, coragem e, é claro, o famoso “na hora certa e no lugar certo”.
Quanto antes compreendermos isso, mais preparados estaremos para marcar o gol quando
chegar a hora certa e quando a vida nos conduzir aos lugares certos.
Em seguida, sugiro que você diga que, muito
antes do futebol, há inúmeras outras questões que fazem o sucesso ou o fracasso
de um país, e que se o dia de ontem foi um “vexame histórico”, a história do
Brasil com certeza pode nos mostrar diversos outros vexames bem mais
vergonhosos, e que contra esses episódios sim nós deveríamos nos revoltar. Depois,
sugiro que você explique para a sua criança que nossos sentimentos de orgulho e
vergonha têm que ser menos frágeis e inconstantes, que perder não é necessariamente
vergonhoso, que ganhar não é a única coisa que importa, e que o nosso patriotismo
não deve estar à mercê de uma vitória na Copa do Mundo. Por favor, não deixe seu
filho odiar a camisa amarela, jogar fora o álbum de figurinhas ou repetir que coisas
assim “só acontecem no Brasil” só porque a seleção perdeu ontem. Diga a ele que
o David Luiz, o Tiago Silva e tantos outros não deixaram de ser admiráveis do
dia para a noite e que ser fã do Neymar ainda é permitido. Diga a ele com muita
convicção que o Brasil não precisa ser o país do futebol para sempre, que morar
aqui não se tornou melhor ou pior de ontem para hoje, que nosso orgulho e nossa
honra não podem estar apoiados no que, antes de mais nada, é um esporte.
Por último, eu proponho que você diga ao
seu filho que todas essas pessoas que machucam outros torcedores, incendeiam
ônibus e depredam o patrimônio público imbuídas pela revolta do fracasso são o
exemplo claro de como não se deve agir diante de uma frustração, e que talvez
essas pessoas não tenham tido a chance de ouvir tudo isso de seus pais. E, para
finalizar, espero que você saiba dar o exemplo ao seu filho de como lidar com
situações que não vão de encontro ao que gostaríamos: com tristeza, sim, afinal
sempre será nosso direito sentir a dor, mas também com respeito, resignação e –
por que não? – docilidade.