quarta-feira, 28 de março de 2012

O GOSTO DO MEU PAVOR


Sou, por natureza, apavorada. E confessar isso me apavora ainda mais, porque se expor é doído como romper redomas. E essa dor me apavora duplamente porque ser assim, tão sincera, às vezes me custa caro.

E é assim, por mais que eu tente ser menos. É assim, mesmo que eu prometa não me assustar na próxima vez. Choro como se fosse criança. Vejo tempestade em gotas d'água. Faço dramas. Amplio detalhes quase microscópicos.  Faço escândalos por dentro tentando manter a compostura por fora, mas, de repente, me decomponho e me mostro mais do que deveria.

Sou assim, exagerada. Tenho uma coleção de receios dentro da bolsa e desejos comprimidos que me sufocam. Meu coração está sempre roendo as unhas. Mas já me adaptei a mim mesma e à minha incrível facilidade de entrar em pânico. Já me acostumei em ter o coração fissurado, depois remendado mil vezes por sonhos novos e um pouco de esperança. Já me acostumei até mesmo com minha fala atropelada e com minhas cem mil neuras modernas. E sabe de uma coisa? Não aceito passar pelos segundos sem sentir cada um deles por inteiro. E não faço questão de me descomplicar.

sexta-feira, 9 de março de 2012

HIATOS, RECOMEÇOS E PEQUENOS DESABAFOS

Já viu como coisas pequenas acontecem assim, de repente e no meio do dia, e nos tiram toda a energia pra continuar? Já viu como a vida anda burocrática? Já viu como discussões inesperadas têm se tornado naturais no cotidiano? Pois é.

Por mais comum que esteja se tornado o lado ruim da vida, eu não me acostumo. E quando esses episódios se repetem, continuo chorando como uma criança. Continuo tendo vontade de desistir, porque sou humana. Continuo pensando, ainda que muito rapidamente, em deixar tudo de lado e ir pra longe. Continuo com a pergunta incalável se tudo vale mesmo a pena. Continuo cheia de indagações contidas, morrendo de medo de um dia não conseguir mais me conter. E mesmo amando as delícias e desesperos da vida moderna, por vezes ainda penso em morar no meio do nada, ao lado do desabitado e do desconhecido e bem longe da suposta civilização.

Quer saber? Tenho questionado muito esse conceito esquisito de civilização. E tenho achado que aquilo que consideramos mais civilizado é, no fundo, muito mais selvagem. E tenho achado que os mais sérios são os grandes palhaços do espetáculo. E tenho me perguntado se os contratos que assinamos dia e noite têm mesmo a validade que supomos. Ou se tudo, inclusive a própria vida, não é passível de ser rompido a qualquer momento.

Quer saber mais? Tudo o que eu queria hoje é descansar. Mas isso passa. A vida é marcada por um tempo apressado e permite apenas minúsculos hiatos pra que a gente retome o fôlego. E esse tempo é ditado pelas regras do cotidiano, e não pelo nosso coração. Se assim fosse, nem sei quando eu voltaria. Ou se voltaria. Mas devo respeitar as normas desse jogo. Amanhã, tudo vai recomeçar. Porque o amanhã será sempre um novo dia à nossa espera. E esse é só mais um recomeço. De recomeço em recomeço, a vida vai seguindo. Porque precisa seguir. E essa não vai ser a última vez.