terça-feira, 28 de setembro de 2010

NOS TEUS BRAÇOS

O que fazer com o que restou de mim agora
Sem aqueles teus braços
Que resumem em abraços
Todo o amor sem fim?

O que fazer com o pouco de mim que ficou
E com tudo de você que aqui deixou
Agora que já não te vejo e nem te festejo mais?

Quisera eu poder te festejar todo dia
E fazer do nosso amor a maior alegria
Que um átomo humano, algum dia pôde sonhar

Quisera eu transformar os segundos em horas
As horas, em dias
E os dias, em noites
Só pra poder exclamar

Onde é que se escondeu a minha paz
Por onde, afinal, anda o meu amor
Tão denso e, ao mesmo tempo, tão doce
Senão em teus braços?

Me diga, por favor, onde é que estão meus risos
Que são tão mais sentidos
Quando você está

Se você não está, tudo é frio
Fico te procurando, mesmo sem teus braços,
Em algum outro abraço
Por aí

Mas sem você por perto, não te encontro
Isso é tão óbvio, mas ainda insisto em procurar
Por esses braços, nada pardos, onde um dia
Me fiz de amar

Quando embalada por esses braços
Vi toda a dor do mundo passar
Vi todo o mundo passar
E ainda pensava estar vencendo

Me lembro ainda desse braços brancos
Por onde eu sentia pulsar o sangue
Veloz, louco e ardente
Quando você tropeçava em mim

E nesse momento todo o céu era negro
Emitíamos luz simplesmente porque amávamos
E amávamos simplesmente porque existíamos
Éramos do amor

E, nesse momento, meu coração ganhava o seu ritmo
Nossa batida se confundia
Nosso sangue, em alguma veia, se perdia
Só o encontro bastava

É que nesse momento só se ouvia a música
Seu som era meu som
Era assim a nossa canção
Éramos os donos do amor

Mas, agora, dos teus braços, só tenho laços
Nós firmes pelos quais a memória se apaixonou
Mas, agora, dos teus abraços, só tenho traços
Nós, não tão firmes, aceitamos que o vento tudo levou

Assim termina o verso
Porque o amor não tem nem tamanho
Está aqui e lá longe, no vento
Está aqui e em teus braços

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PARTO




Ir embora, em certos casos, é ficar estático. É ficar extático. É não reagir, entrar em equilíbrio. É simplesmente não se mover. Ir embora pode ser deixar que tudo seja como é. Isso mesmo. Deixar que tudo aconteça como o outro quer. Assim, n-a-t-u-r-a-l-m-e-n-t-e. Pra mim, que sempre insisti na ideologia semi-impossível das coisas nunca serem como são, essa idéia de “barquinho na correnteza” nunca fez sentido. Mas agora vai fazer. Vou embora.

Ir embora, em outros casos, é se fingir desaparecido e, se for necessário, desaparecer. É não dar notícias de vida. Parecer esquecido demais e, se for possível, até esquecer. É não fazer sinal de fumaça e nem sinal de amor. É disfarçar o amor que houver e não se reconhecer amante. É fugir da coisa amada, repetindo pra si mesmo que “o que os olhos não vêem, o coração não sente”. É escapar do amor até não amar mais. Até estar tão longe daquilo que se ama que o espaço engole o amor. Ou até morrer do próprio amor.

Ir embora, nos últimos casos, pode ser ir pra bem longe. Andar por terra, céu e mar, à procura de não ter mais o que procurar. Ou mesmo à procura de algo novo que se queira encontrar. Em busca do desconhecido, do que outrora foi inexplorável e já não é. Agora é tudo alcançável, porque você está longe. Perto apenas de você.

Mas no rodapé dessa página precisa estar escrito: eu vou embora pra algum lugar que seja dentro de mim. Falando assim parece que não vou andar muito. Mas vou. Tenho o universo dentro de mim. Não tenho mapas, mas tenho a rota certa. E tenho a errada. Tenho todas as rotas certas e erradas. Pra escolher.

Vou viajar dentro de mim pra, quem sabe, me conhecer. Entender tudo o que eu nunca antes pude. Chegar ao ápice de mim mesma e me enxergar sem precisar de espelhos. Sem reflexão. Apenas introspecção. Em outra dimensão. A trajetória está inteira aqui comigo. Sou eu mesma a trajetória. Sempre soube disso, só preciso repetir outras mil vezes pra constatar que é verdade. Estou grávida do futuro e estarei eternamente. Sei que o início é sempre mais difícil. A largada tem lá suas dores. Mas a linha de chegada é o parto. Parti.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

SIM

Tudo começou com uma pisada de pé. Tem uma frase bonita, dessas que se lê em livro e nunca mais se esquece, que diz que tudo na vida começa com um sim. Talvez uma pisada de pé, assim meio intencional, despretensiosa e levemente proposital, seja a maneira mais doce e poética de dizer sim. Dizer sim para o outro é a maneira mais nobre e sincera de se desprender e convidar o amor para a última e esperada dança. Se desprender é o primeiro e mais eficaz modo para unir as correntes de vida. E unir as correntes de vida é a única forma que eu conheço de se eternizar, por completo, nesse mundo. Nem os cientistas, com suas descobertas incríveis, inimagináveis e inusitadas, são tão eternos quanto quem amou. Quem amou ficou eterno sem deixar vestígios palpáveis. Porque o amor não é palpável. Nunca foi. Ele existe sem que precisemos comprovar com sólidos. O amor é, por si, gasoso. Ele paira no ar, sem pretensão de se solidificar. O amor é um gás nobre.

Pisar no pé de alguém pode demonstrar implicância, mas não nesse caso. O amor de que falo precede a história. Esse é o amor da história, e não a história do amor. Digo isso porque o amor sobrevive à história. História é tempo, mas nesse caso, nem o tempo consegue apagar o amor sem vestígios. O amor veio antes, muito antes, quando ainda não existia nada. Surgiu antes da pisada de pé. Antes das personagens. Antes do encontro. O amor já existia muito antes de ser escrito. E só foi escrito porque existiu.

“Ele pisou no meu pé no primeiro dia”, ela conta. Era simpática e, por isso, aceitou as desculpas dele sem pensar. Ela sempre aceitava as desculpas. Com ele, não haveria de ser diferente. Mas as pisadas de pé se repetiam. Uma, duas, três, quatro vezes. Por fim, as desculpas já não foram tão bem aceitas. Ela, que não acreditava em amor da vida, retrucou.

- Não entendo porque você pisa tanto no meu pé!
- É que eu gosto de você...

Ela dizia que todos os amores estavam na vida para serem vividos, mas nenhum era, em especial, o amor da vida dela. Estava enganada.

As primeiras palavras foram trocadas. As primeiras palavras, os primeiros abraços, os primeiros beijos, o primeiro amor. O único.

- Sabe... Eu queria te dar o mundo. Mas eu não posso.
- Tudo bem, amor. Eu entendo.
- Mas eu te dou um MUNDY.


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O AMOR QUE AMA E A FOLHA EM BRANCO

Sempre cultivei a mania de estampar minhas sete vidas aqui. Tenho um lado felino independente da taxonomia. Sobre minhas cândidas doçuras é que escrevo. Quanto às minhas ferocidades, às vezes omito. Não faço questão de me classificar.

Antes que alguém pergunte, essa não é uma história de amor.

Hoje, inexplicavelmente, encaro a folha em branco e não me lembro de palavra alguma que seja capaz de descrever o amor que eu sinto. Eu vou tentar: o meu amor não é carnal, não tem alvo e nem destinatário, não declara muitas condições e nem se esgota com as declarações. O meu amor é atemporal e sem dono. Amo tanto que já não sei registrar. Não agora. O que eu sinto pode, então, não ter nome. O que não tem nome, nesse mundo de meu Deus, teoricamente, não existe. Tudo bem. Deixo meu amor andar por aí, sem lenço nem documento, buscando finalmente e deliberadamente, amar. O meu amor está quase pronto.

A vantagem de me calar é que o silêncio nunca se contradiz.

Em um dia qualquer do passado, decidi que as cores do arco-íris já não me eram suficientes. Passei a combinar. Os primeiros riscos e rabiscos foram traçados. Os primeiros traços já diziam quem eu era. Eu me revelava. E me relevava.

Parte do que eu tenho é segredo. Outra parte é mentira. E existe, lá no fundo, alguma coisa que é tão verdadeira que nem precisa ser dita ou explicada. Olho mais uma vez para a folha em branco e tenho a estranha sensação de que tudo já está claro, dito, explícito. Mas, afinal, a falta de inspiração também deve servir para alguma coisa.

Me distraio com um ou outro objeto sobre a escrivaninha. Faço alguma viagem junto com as notas da música que escuto. Penso em Dom Casmurro e Capitu. Penso no tal amor de Dom Casmurro e Capitu. E não me agüento. Hoje eu, definitivamente, não estou poeta.

Quem vem aqui procurar por palavras e encontra silêncio, talvez não se dê por satisfeito. Nem todo mundo sabe ouvir o que nunca foi dito. Nem todo mundo sabe ler a folha em branco e é com essa verdade que me frustro. Estou inteiramente aqui. Mais do que nunca, talvez. Estou quase pronta. Estou na medida certa. Na medida que talvez esteja até errada, mas que é a minha medida. Estou aqui. E estou em nome do meu amor que insiste, incontrolavelmente, em amar.