domingo, 27 de junho de 2010

CAPÍTULO


A vida de Alice havia realmente mudado muito. O mês de março se foi e levou consigo muitas coisas. Já não se via tão presa a Henrique. Depois de um longo ano, depois de sobreviver sozinha a todas as estações, depois de chorar uma ausência que nunca foi presença, ela decidiu retornar ao mundo de maravilhas do qual dispunha e voltar a ser feliz assim, como sempre fora. Depois de procurar em conhecidos o encanto de um desconhecido e, fatalmente, não encontrar, ela decidiu que haveria de encontrar em si mesma aquilo que, insistentemente, faltava. Quem sabe ela mesma não fosse a peça perdida?

Decidiu, acima de tudo, que cantaria. E, assim como fizera com todas as outras decisões que já havia tomado na vida, determinou que perseguiria o sonho até o fim. O pote de ouro sempre esteve atrás do arco-íris mas, naquele momento, por alguma razão totalmente desconhecida, ele brilhava mais do que nunca. E, atraída pelo brilho, ela percorria todos os caminhos multicoloridos do arco-íris enquanto aproveitava todos os carinhos do mundo.

A música invadiu a vida dela e ocupou os espaços vazios. Não sobravam mais faltas e nem faltavam sobras. Estava tudo em seu lugar. Mas as canções, inexplicavelmente, ainda eram para Henrique.


ps: Esse texto é parte de um dos capítulos de uma história. Parte da minha história. É que, escrevendo, eu sempre pude ser o que bem quis. Escrevendo eu me permito. E, nessa permissão, decidi inventar uma Alice e um Henrique. Decidi inventar um amor. Só pra me distrair. Mas é que, por acreditar demais nas próprias fantasias, Alice, Henrique e o amor têm ganhado vida dentro de mim. Depois de inventados, eles não mais me deixam em paz. Devo toda a inspiração e motivação à vocês, que leem minhas linhas e fazem o mais difícil: leem minhas entrelinhas. Se será um livro? Não sei. Mas eu me comprometo a buscar incansavelmente o pote de ouro que se esconde no final do arco-íris, porque, assim como Alice, eu persigo meus sonhos. E, assim como eu sempre digo, não tenho asas, mas tenho coragem suficiente pra voar.

ps²: Só pra constar: entre mim e Alice, qualquer semelhança é mera coincidência.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

PRESENTE

- Seu presente chegou. Ele está ali.

Senti borboletas na barriga quando ouvi isso. Como eu desejava tudo o que viesse de você o quanto antes! Como eu tinha pressa, urgência, loucura pelo que quer que tivesse seu nome. Seu nome... Seu nome... Seu nome, seu nome, seu nome.

Era amarela a caixa. Amarela e grande. Tudo bem. Não há nada de tão surpreendente nisso. Afinal, todas as caixas do SEDEX são amarelas. Mas o amarelo é minha cor preferida. A caixa tinha a cor e o tom que me faziam feliz. E eu me recuso a acreditar que seja mera coincidência. Sempre fui assim. Escolhi acreditar na sorte. No destino marcado. No amor ali, escrito nas estrelas. Escolhi entender a conspiração e a inspiração. Escolhi fazer pedidos às estrelas. Escolhi apostar nessa idéia romântica de que, em algum canto por aí, você vê a mesma lua que eu enquanto peço, em segredo, pra te ter na minha visão. Escolhi brincar de bem-me-quer nas margaridas sem me lembrar que existe mal-me-quer. Escolhi te encontrar nos livros, nos sons, nos versos, nas cartas, nos traços, nos riscos, nos rabiscos e nas letras de caneta. Escolhi te encontrar no seu próprio dia. Escolhi te encontrar em mim e me encontrar no nosso encontro. Escolhi seguir a intuição e fiz de cada movimento seu, um passo da nossa dança que seguia por si, sem obedecer à música que tocava. Sempre segui meu ritmo.

Procurei o lugar mais bonito para abrir o que era nosso. Nosso caso precisava de cena e de cenário. E assim, facilmente, viraria história de filme. (Se é que já não era).

Examinei primeiro a sua letra que preenchia os campos de destinatário e remetente. Seus traços tortos (pra mim, perfeitos), seus pingos nos “Ís” em formato de bolinhas e seu nome, sobrenome e endereço. De dentro da caixa saiu um amor visível. Tudo, nos mínimos detalhes, me agradava. Já não me lembro do que foi que vi primeiro. Mas sei que, em segundos, inúmeros amores estavam espalhados em cima da minha cama. Cada surpresa continha, em si, um carinho enorme que brilhava tanto que cegava os olhos. O amor estava em todos os cantos, inclusive em mim. O amor invadia o quarto e, orgulhoso, tomava conta de todo espaço, preenchia todos os vazios e se encaixava perfeitamente em tudo o que era meu. Seu amor parecia ter sido moldado aos meus próprios sonhos. Cada detalhe era poesia.

Você enviou, de longe, um cheiro que se instalou em mim. Posso convocar, em pensamento, esse cheiro, porque impregnou. O perfume, por si, explodiu meus sentidos e, mais uma vez, me fez feliz. E então, dei o primeiro jato. Bem sei que é pra manter o HUMOR.

Os corações vieram embalados, um a um. Confesso que não soube, de cara, o que havia dentro até que você, gentilmente, me contou que era óleo para a pele. Mas, decididamente, eu não iria estourá-los por nada. Repito: me fale sobre esses corações daqui a mil anos, e eu ainda os terei comigo.

O cachecol é vermelho e xadrez. Gosto de vermelho e gosto de xadrez. Isso também não foi acaso. De alguma forma, você vai me proteger do frio que tanto me incomoda. Vou te combinar com todas as cores e com todos os amores que eu puder inventar. Vou te levar comigo e será bonito ter um pedaço seu em mim. Pensando bem, já tenho vários pedaços seus em mim. Mais do que eu poderia supor. Muito mais, amor.

O crucifixo é proteção. Sei que ele tem mais energia do que qualquer outro que eu pudesse comprar. É a nossa fé que move as montanhas. Sempre foi assim. A fé, a coragem, o amor e, lá no fundo, a insensatez. Essa mesma insensatez me faz, agora, querer te ver menino. Mas eu sei que, no fundo, menino você não é mais. Mas te chamar assim é algo que te torna infinito em mim, daqui até a eternidade. Aprendi que eterno é exatamente aquilo que não cabe no tempo. Somos assim. Esbarramos no tempo o tempo todo. Mas eu ainda tenho voz e disposição pra gritar o mais alto que eu puder na esperança de que, em algum momento, o som da minha voz possa, quem sabe, chegar aí.

As suas palavras vão pra minha coleção. Admirei sua letra, os pingos nos “Ís” em formato de coração e a pureza de sempre. Foi através de palavras que eu te conheci e te reconheci. Foi através de letras, desenhos, traços, fotos, músicas e cheiros que eu me apresentei pra você e exigi, com muita convicção, a sua presença. E foi assim que entendi que gosto de você e que não é de hoje. Gosto porque gosto. Gosto porque gostar de você é bom. Gosto porque o gosto de gostar de você é doce. E foi assim mesmo que começou a nossa história. Eu te disse: “Que seja doce!” E foi.

O seu olhar eu vou colocar na estante. Pra eu ter um dia feliz.

E quanto ao seu amor... Será sempre o meu amor.


domingo, 13 de junho de 2010

PRA JUSTIFICAR TODO O RESTO


Não tente entender nada do que eu disser. Já te adianto que nada fará sentido enquanto não for sentido de verdade. Não gaste suas aspas comigo. Nem suas aspas, nem seu tempo e nem sua atenção. Hoje eu não mereço. Não reproduza nenhuma das minhas falas. Não repita nada do que eu disser. Não cultive essa mania tola de tentar me imitar. E tente não usar nada do que eu disser contra mim no futuro, pra que eu nunca me canse de te dizer. E pra que eu te diga sempre que for preciso.

Sou sutilmente humana. É todo meu o direito à contradição e, por isso, não faço questão de ser coerente. Eu posso sim, coexistir. É muito bom quando me permito florear. E é ainda melhor quando você acredita em cada vírgula minha. Sorte a minha porque não me deixo ser interrompida por nenhuma pontuação. Sorte a sua porque às vezes perco a fala e, assim, nosso silêncio é indizível. Sorte a nossa porque eu quase nunca desisto da exclamação. E porque, quando desisto, tenho você pra insistir. E pra existir. E pra me distrair. E pra me corrigir. E pra me seduzir. (Me seduzo).


Sou melhor quando invento. Mundos improváveis, amores platônicos, planos infalíveis, crimes imperdoáveis, histórias impossíveis. Todo o meu mundo fica cinza quando emudeço. Sou muito melhor quando grito do que quando me calo, pode acreditar. Talvez seja essa a razão de nunca me calar. Pra tentar ser melhor. Um pouco melhor. Um tanto quanto melhor.


Os outonos me permitem ser diferente a cada estação. Ora menina de riso fácil e coração aberto, ora mulher. Mulher de fases. Me permito ser inconstante e faço disso, um charme. Espero pelo instante seguinte como uma criança espera pelo doce. É assim mesmo: coleciono instantes doces. Exijo que aguardem sempre o próximo capítulo. Nenhuma linha será previsível. Um aviso? Não espere que eu seja exatamente como você espera. Espere exatamente o que não espera que eu seja. Porque assim, serei o que espera. (Tudo bem, eu sabia que você não entenderia.)


Não preciso escapar do verso. Nem mesmo tento. Sempre estive pelo avesso, e essa versão é inegável. Sou afavelmente dengosa. Tenho um lado frágil, delicado, inseguro e carente. Mas sou cheia de exigências. Exijo, por exemplo, segundos inteiros. Só faço questão do que amo. E, por isso, já não faço questão de muita coisa. Exijo também dias claros, só pra manter o humor. Sei que é capricho meu. Choro, de vez em quando. Principalmente nos dias frios. Mas sei despistar. Sou da sorte. Estou constantemente entregue aos sonhos, especialmente aos não concretizados. Vivo a procurar. Vivo em busca. Vivo na busca. Foi durante a busca que eu descobri quem sou. E descobri que, irrevogavelmente, preciso de palavras tanto quanto preciso de ar.


Sempre carreguei dentro da mochila, algum sonho. Pelo menos uma dúzia de canetas coloridas pra traçar o caminho. Papel pra rabiscar a minha falta de jeito. Inspiração pra inventar no vento. E amor, pra justificar todo o resto.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

BURACOS COLORIDOS

Há quem diga que feliz é aquele que tem seu quebra-cabeça montado. Aquele que tem todas as peças no lugar e todos os espaços milimetricamente ocupados. Há quem acredite que tudo o que falta é considerado lacuna que deve, em qualquer hipótese, ser preenchida. Enquanto houver algo em branco, os lápis de cor não podem cair ao chão. Enquanto houver carta fora do baralho, a busca não deve terminar. Assim, há aqueles que afirmam convictos que todo espaço é buraco e que todo buraco é negro.

Mas eu me nego a ter os amores na palma da mão. Me recuso a ter todas as verdades na ponta da língua e todos os versos prontos na ponta da caneta. Preciso inventar. Preciso cair na minha própria armadilha e, docemente, me iludir. Preciso percorrer meio mundo ao sabor de um sonho. Preciso continuar acreditando na minha própria fantasia. Preciso ouvir a utopia, seguir a intuição e me deixar enganar pela miopia. Preciso mais da busca do que do encontro. Faço mais questão da escalada do que do topo da montanha. Enquanto o meu coração acreditar que a peça que falta está em algum canto do mundo, à minha espera, terei força e coragem pra procurá-la. E, pelo caminho, tenho poesias de sobra pra me consolar.